quinta-feira, 15 de março de 2007

PUBLICADO EM "GALICIA HOXE" (achamos de interesse; modificamos a ortografia)

A OPINIÃO

Espanha e Portugal preferem a Estremadura à Galiza

ANGELO GONÇALVES VICENTE

O extraordinário receio das ­autoridades galegas à hora de assumiren, com todas as consequências, que a Galiza é o território do Estado espanhol mais próximo de Portugal e da Lusofonia a todos os niveis acaba de supor un novo golpe para o nosso país, que vê como o Secretariado Técnico Conjunto, a janela pela que deberão passar todas as candidaturas de projectos de cooperação hispano-lusos para obterem apoio da UE até o 2013, incluídos os da Euro-Região Galiza-Norte de Portugal, vai para Badajoz e não para Vigo, a cidade galega que aspiraba a assumir esta estrutura.

Falamos de vários postos de trabalho diretos perdidos... mas também falamos de simbolismo: a Espanha e Portugal preferiram a Estremadura à Galiza como referência comúm.

Absurdo? A priori, sim. Se repararmos um pouco mais, não.

A priori resulta absurdo, porque a Galiza e boa parte do actual território português foram uma unidade política durante séculos e, por consequência, compartilhan hoje idioma, costumes, paisagem, músicas, ditos, características económicas, gastronomía, etc. Absurdo porque, partindo dessa profunda ligação, a Galiza hoje debería estar pedindo ser membro de pleno direito da organização internacional mais importante dos países aos que Portugal levou a nossa língua, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, deveria estar demandando-lhe ao Comité Olímpico Espanhol o direito a participar nos Jogos da Lusofonia, deveria estar reivindicando que os corpos diplomáticos do Estado espanhol nos países lusófonos contassem con pessoal galego... O de gerir desde a Galiza qualquer tipo de assunto relacionado com os dous estados não deveria ser uma exigência, mas algo obvio, assumido de modo natural por autoridades galegas, espanholas e portuguesas.

Se repararmos, no entanto, vemos na Galiza prejuizos, medos incomprensíveis a assumir o seu papel de nexo natural entre a Espanha e a Lusofonia toda. Susceptibilidades que se traducem, por exemplo, na escasa integração nos livros de texto de língua galega dum par de lições sobre a história comum das falas de aquém e de além-Minho e sobre as escasas diferenzas fonéticas e gráficas. Prejuizos que impedem, ponhamos outro exemplo, o traballarmos pela recepção em toda a Galiza das televisões e rádios portuguesas. Medos, enfim, que fundamentam e até legitimam declarações como as do vice-presidente estremenho, Ignacio Sánchez, quando asevera que a Estremadura alcançou já uma ligação com Portugal igual à da Galiza!

Acontece, é certo, que na Estremadura sim se está a avançar nestes e outros âmbitos. Mesmo têm um Gabinete de Iniciativas Trans-fronteirizas, organicamente dependente da Presidência da Junta de Extremadura. Lá estes son avanços de sentido comum. Aqui, propostas parecidas são vistas como delírios de nacionalistas bolorecidos.

Absurdo.

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