quinta-feira, 8 de março de 2012

CARTA À ASSOCIAÇÃO 25 DE ABRIL (distribuídas 400 folhas às 5h30-6h40 na porta da Bazan rua Taxonera)

Concordando com o editorial do número 103/104 do boletim Referencial, com o artigo de Manuel Barbosa Pereira, Portugal em Estado de Guerra...? e com muita outra coisa contida no boletim, achamos pertinente dirigir-nos ao Grupo de Reflexão Interna e ao Conselho Editorial da A25A para dizer:
Nós defendemos a Constituição portuguesa porque afirma a decisão do povo português de defender a INDEPENDÊNCIA nacional (...) e de abrir caminho para o SOCIALISMO.
Defendemo-la desde a Galiza, reconhecida na Constituição espanhola e no seu Estatuto de Autonomia como NACIONALIDADE histórica embora submetida ao mais abjeto COLONIALISMO espanhol que tudo nos espolia e tiraniza. Defendemo-la porque defendemos o contido no seu artigo 7.3 para aplicar à Galiza.
Defendemo-la desde a Galiza em concordância com a proclamação da Assembleia Nacionalista de Lugo em Novembro de 1918: «a liberdade e a independência de Portugal consideramo-la os galegos como a nossa própria liberdade e independência e estaremos dispostos decote a erguermo-nos violentamente contra os que quisessem esnaquiçar aquela», Assembleia que também proclamou o português, língua da Galiza e que esta com Portugal forma NAÇÃO completa: uma única nação.
Defendemo-la desde a Galiza do aquém-Minho porque consideramos Portugal como o considerava Castelão, a Galiza do além-Minho, a Galiza LIVRE, a nossa pátria e por coerência reiteradamente solicitamos o passaporte português por MOTIVOS POLÍTICOS, os acima escritos, solicitamos o reconhecimento administrativo da nossa IDENTIDADE, NACIONALIDADE, que o governo da República portuguesa reconheceu outorgando-lha ao ferrolano e galego Ernesto Guerra Da Cal. Queremos ter passaporte português, não espanhol. Numa palavra queremos e defendemos a UNIÃO PROLETÁRIA E NACIONAL DA GALIZA E PORTUGAL e nisso temos empenhado a VIDA e o nosso incessante modesto trabalho.
Defendemo-la porque exprime uma boa parte dos objetivos pelos que lutaram gerações e gerações de seres humanos na Galiza e em Portugal durante o XIX século que Oliveira Martins condensa na palavra Revolução, republicanismo, federalismo e socialismo. Autor que também ressalva «a solidariedade nacional espontânea entre as duas Galizas divididas pela política» ou «os monumentos históricos, UNÂNIMES, em revelar uma ambição coletiva ou social [a Independência] que se estende a TODA A GALIZA (…) por isso a política portuguesa, nos três primeiros séculos, é UNIFICAR A GALIZA». O próprio Teófilo Braga reconhecia que «o afastamento da Galiza de Portugal provém do ESQUECIMENTO [falta de estudo] DA TRADIÇÃO NACIONAL e da falta de PLANO POLÍTICO de todos os que nos têm governado» e afirmava no The Times o seu IDEAL de UMA República de Portugal e a Galiza confederada com as Repúblicas dos outros povos da Ibéria. IDEAL e idealistas que Franco, ajudado por Salazar, MASSACROU E EXTERMINOU até hoje. Sempre pensamos no DESAPARECIDO alcaide socialista de Ferrol, Jaime Quintanilha Martínez, assassinado por Franco poucos dias depois de escrever e proclamar o seu IDEAL DE UNIÃO LIVRE de Repúblicas Confederadas com a República da Galiza e Portugal. IDEAL compartilhado pelos cabos da Marinha em Ferrol que derrotaram os oficiais golpistas deixando os vasos de guerra para a República, cabos galegos em comunicação permanente com os da Marinha portuguesa que se INSURRECIONA no esteiro do Tejo seguindo o mesmo plano que a aqueles lhes dera a posse dos barcos. Algum deles como Sottomayor, torna a aparecer no Combate do Santa Liberdade com H. Galvão e Humberto Delgado com José Velo no Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação. Ou a INSURREIÇÃO em Cartagena da fragata Numância na noite do 1 para o 2 de Agosto de 1911, insurreição lavrada durante uma visita da Numância a Lisboa por SUGESTÃO da revolução portuguesa, insurreição em que estavam envolvidas outras unidades da frota e que visava para se apossar da Esquadra e PROCLAMAR A REPÚBLICA. Na própria fragata Numância, barco revolucionário por tradição, entre a praia de Rota e o Castelo de São Julião (Cádis), foi fuzilado o fogueiro Sanchez Moya que com o TENAZ REPUBLICANO Gonçalo Moreira, encabeçaram a DERROTADA INSURREIÇÃO.
Defendemo-la desde a Galiza ainda, como defendemos recuperar e atualizar a UNIÃO OPERÁRIA GALAICO-PORTUGUESA (Tui em 1901; Viana do Castelo em 1902 e Braga em 1903) «com programa SOCIALISTA contra o CAPITALISMO»; porque o operário português José Inácio Ferreira LENHA no ato de abertura do Congresso operário galego-português em Viana do Castelo «saúda os camaradas do país visinho a que andam LIGADOS PELAS TRADIÇÕES»; porque o representante galego Henrique Botana proclamou o Congresso como «a manifestação de uma só RAÇA, duma só CLASSE, pois que para os trabalhadores não há FRONTEIRAS»; porque os operários [galego-portugueses] mostravam a NECESSIDADE (...) PARA A CONSTITUIÇÃO DA UNIÃO FEDERAL DOS DOIS PAÍSES DA PENÍNSULA»; porque proclamava seguir a máxima de Carlos Marx «proletários de todo o mundo, UNI-VOS», de derrubar as fronteiras que DIVIDEM o proletariado, a começar pela fronteira galego-portuguesa: «comece-se pela UNIÃO das associações galaicas com as do Norte de Portugal (...)»; porque Bernardo da Silva, da União de Tipógrafos do Porto, saúda «a vós galaicos companheiros que vindes dessa parte da Hespanha que é como que a CONTINUAÇÃO do meu querido PORTUGAL». Na altura o conceito «raça» identificava-se com o de NACIONALIDADE e não tinha a conotação negativa e de falsidade de hoje. O conceito TRADIÇÃO, TRADIÇÕES, em nossa opinião, tinha mais a ver com a História e com a IDENTIDADE. Segundo o jornal VIDA NOVA de Viana do Castelo, assistiram ao Congresso operário galaico-português em 15-20 de Abril de 1.902 os jornais seguintes: Diário de Notícias e O Século (Lisboa); Liberal e Heraldo (Madrid); La Solidaridad, Ecco de Santiago e Faro de Vigo (Galiza); Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias (Porto); Aurora do Lima, Vida Nova e Districto de Vianna (Viana do Castelo).
Na página 60 do seu livro História das Ideias Republicanas em Portugal, Teófilo Braga, escreve acerca de José Félix Henriques Nogueira, «apóstolo fervoroso da LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE, foi STRENUO defensor da doutrina democrática e da IDEIA da Federação Política das Hespanhas (...)» e acerca do seu «belo livro» Estudo Sobre a Reforma em Portugal, publicado em 1851 (seis anos depois de uma INSURREIÇÃO na Galiza e Portugal) em que defende a «Federação ou Liga dos Estados Unidos Peninsulares: Portugal, Galiza, Astúrias, Biscaia, Navarra, Catalunha, Aragão, Valência, Múrcia, Granada, Andaluzia, Estremadura, Castela-a-Nova, Castela-a-Velha, Leão»; livro, escreve Teófilo Braga, em que «ficou fundada a política racional e histórica dos povos peninsulares; é essa TRADIÇÃO FEDERALISTA (...) que deve ser ESTUDADA de novo [para acabar com o afastamento da Galiza de Portugal que provém do ESQUECIMENTO DA TRADIÇÃO NACIONAL], comprovada com o CRITÉRIO CIENTÍFICO (…) como meio de uma INDEPENDÊNCIA inatacável» (pág. 64); ESTUDO do mal conhecido XIX século que reiterava Álvaro Cunhal. É justamente isso que nós vimos tentando ESTUDAR E TRABALHAR desde antes de publicarmos um modesto trabalho que intitulamos Manual Galego-Português de História em 1.996, tarefa em que, como sempre, Portugal pode e deve dar mais e melhores frutos. Frutos como os da Comemoração do Centenário da República que, justamente, OCULTOU A TRADIÇÃO FEDERALISTA, ESQUECENDO, mais uma vez, A TRADIÇÃO NACIONAL, de tanta dimensão que penetrou o debate da Assembleia Nacional Constituinte de 1911, mesmo com proposta de Manuel Goulart de Medeiros, deputado por Horta, de Constituição de República FEDERAL democrática ou a do Grémio Montanha de governo republicano, democrático e FEDERATIVO, etc. Em todos os projetos Portugal não RENÚNCIA a qualquer «misterioso» território europeu não explicitado exceto o negativamente referenciado por Alexandre Braga «na ilharga, a pesada coronha dos conspiradores da Galliza».
Achamos que o Grupo de Reflexão Interna da A25A podia considerar a hipótese de esse ESTUDO, da reflexão e o debate, que em termos democráticos e inspirado nos princípios que guiam o MFA, os valores do 25 de Abril, da Constituição portuguesa, contribuiria, com certeza, para acabar com ameaças de presentes e futuros «Pactos Ibéricos» como o de Franco e Salazar para conquistar Portugal, acabar com a sua liberdade e a das outras nações, a Galiza, submetidas pelo Reino da Espanha.
É a nossa SUGESTÃO como um tema para ser tratado pelo Conselho Editorial.
Com os melhores cumprimentos              MANUEL LOPES ZEBRAL, presidente de GALIZA SOLIDÁRIA e representante da
COMISSÃO PARA A REUNIFICAÇÃO NACIONAL DA GALIZA E PORTUGAL

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